quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Ele veio do meu sangue

Como o Brasil tem apenas 500 anos de história, vindo de um colonialismo da pior espécie (o da exploração sem transferência de capital intelectual), aqui vigora muito o dizer que "eu quero um filho do meu sangue". Ora, nenhum trabalho científico provou vir a educação e muito menos a sabedoria de hemácias ou plaquetas. Filhos de sangue são, muitas vezes, de inclinações e comportamentos completamente distantes dos pais.

Mas o que estas pessoas não compreendem é que o sangue nada determina, pois se assim fosse, pais não abandonariam os filhos de sangue, presencialmente ou não. Se o raciocínio fosse o da adoção racional de quem se ama e se quer amar, melhor resultado a sociedade obteria. É preciso compreender que:

Nascemos entre "conhecidos" e depois vivemos com "estranhos"

O que significa isto ? Os conhecidos de nossa primeira fase da vida são os pais e irmãos, do tal "sangue" de que os ignorantes falam. Os estranhos são a nossa nova família, que acaba sendo a real: nossa esposa ou esposo e filhos. Estes nós quisemos ter. A tese do "sangue" vira justificativa para aqueles que se separam e rompem famílias, provocando mais doença social.

Mas o que tem a ver isto com violência escolar ?

Se escolho a racionalidade para encarar os vínculos sociais, vou considerar mais importante a sociedade e o "outro", e não o sangue, toda vez que este sangue (filho ou filha) ameaçar a sociedade, invocarei o Estado. Exercendo este modo de vida e pensamento, jamais permitirei que um filho meu ameace a sociedade, e evito as doenças sociais e suas desastrosas consequências, como a de alunos que ofendem ou matam professores, fato acontecido e notório no Instituto Izabela Hendrix.

O produto de "Ele veio do meu sangue" são pais orgulhosos e omissos. O filho pode ser o que for, mas é mais importante do que tudo. Este tipo de pais é também do grupo dos "doentes sociais". O filho é dele, um bem, e ninguém pode encostar a mão. Depois este tipo vai tomar calmante para dormir, depois que o filho fizer uma besteira que ele racionalmente poderia ter evitado.

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